Muito boa festa ontém. Museu da industria. Vargas com vista para o rio. Parecia outro país.
Pessoas com boa onda e bem dispostas. Só não percebo uma coisa. O que é que toda a gente faz? Pela aspecto são ligadas às artes e pelas conversas também: escultores, pintores, músicos, estilistas etc... Mas então onde é que está a arte em Portugal? Como é que uma geração inteira de criativos ligadas ao movimento internacional não é capaz de mais? Como é que não há mais bom teatro, boa arte, bom som?
Acho que o problema é um de prepotência. Nos paises mais desenvolvidos a arte teve um processo gradual: foram-se construindo ideias e deitando-as a baixo constantemente - as populações foram-se tornando mais exigentes. Criou-se uma cultura de cultura. Em Portugal, talvez por culpa da ditadura e da opressão imposta aos artistas (mais tradicionalmente ligados à ideologia esquerdista), não houve essa evolução natural. Houve revolução, abertura ao mundo e entrada de ideias. Mas entrou tudo ao mesmo tempo. Não houve tempo para bases. Ou seja, fomos expostos quase violentamente a uma arte internacional já muito avançada e experimentalista. Houve uma adesão mas uma adesão sem bases. Entramos no experimental sem ter feito parte do processo e isso a meu ver tira credibilidade e autenticidade à nossa arte.
Criou-se um ambiente de "rei vai nu" em que as "elites" artisticas fazem produções para as próprias elites e ninguem tem a coragem de vir dizer:
"Voces desculpem, eu se calhar é que não percebo mas isto pareceu-me uma grande merda"
Há salas vazias nos teatros e exposições sem ninguem e a culpa é da televisão e internet. Mas a verdade é que um Zé que um dia decida que quer experimentar ir ao teatro depara-se com 2 ou 3 horas de um grupo de jovens quasi-nús pintados de laranja a rebolar e gritar "eu quero ser um bocado de cotão!" ou "sua grande pêga lasciva morta no esgoto!" - e nunca mais lá poe os pés. Os encenadores, artistas, musicos, andam todos numa éspecie de masturbação autista sem qq respeito pelo público. Depois há uns textos de apoio - que deveriam ter uma papel importantissimo por introduzir ao observador o contexto da arte - mas que pelo contrário derrotam de vez qq ideia de se querer perceber o q se está a passar.
Ainda no outro dia assisti a um jovem que trabalhava comigo e que queria fazer uma exposição a dizer "oube-lá, nós queriamos mesmo era que as pessoas sentissem a arte e que interagissem com ela. Queremos provocas reacção tás a ver? Até tou a pensar em por um bocado de merda, um bocadinho sabes, na entrada da sala para as pessoas pensarem - ei olha um bocado de merda". É mesmo este o problema. Não há bases e querem todos andar no pelotão da frente ou seja: ninguem faz um esforço para haver arte "acessivel" (um quadro com nexo, um teatro com história) e a arte de vanguarda é fraquissima pq não há um escrutinio amplo e imparcial - os artistas andam todos a dizer que sim uns aos outros e o Zé fica em casa pq aquilo faz-lhe dores de cabeça e ele sente-se burro.