Seu ratola
É quase impossível visitar o Palácio-Convento de Mafra sem pensar nos ratos que, diz-se há muitos anos, vivem por lá em grande número. Supostamente, são seres de enormes dimensões, têm de ser regularmente alimentados e chegam mesmo a devorar soldados. No entanto, tal teoria não passa de pura ficção, garantem as conservadoras do Palácio e o Capitão Campeão, excelente guia nas visitas ao Convento. "É verdade que há ratazanas", explica o capitão, "mas não aos milhares, às pragas, e dizer que é necessário pôr lá uma cabra todos os dias para os alimentar é mentira". O seu número, aliás, terá diminuído nos últimos anos por via de um melhor tratamento de lixos. Hoje os dejectos são reciclados ou transportados em contentores hermeticamente fechados. O que resta, pouco, é oferecido aos bichos, que fazem o favor de o "reciclar". Desta forma ficam calmos e mantém-se nos esgotos da zona, afinal o seu habitat natural. Com um tamanho médio de 20, 22 cm, estes ratos só atacam, segundo o capitão, quando se sentem encurralados, como acontece com outros animais. Assim sendo, nunca devoraram nenhum soldado. Aconteceu, há anos, uma situação que poderá ter dado origem ao mito, mas que nada tem a ver com a voracidade dos roedores. Um soldado que andava, com um companheiro de armas, à caça de pombos, terá caído pela chaminé. O outro, com medo das eventuais consequências, não relatou o sucedido. Ao fim de dois dias o primeiro foi encontrado nos esgotos, morto por asfixia e, naturalmente, com mordeduras dos ratos. Mas não, não foi devorado.Nos dias que correm, há um ou outro rato que sobe às instalações militares. Mas "passeando pelas docas de Lisboa vêem-se mais", assegura o capitão. Outro mito construído em torno do Palácio-Convento diz que existem tantos pisos subterrâneos quanto acima do solo. Também é mentira, esclarece o militar. Existem, de facto, vários túneis (um deles vai até à Ericeira, outro até ao Lisandro) mas nenhum dá acesso ao interior do Convento, ao contrário do que acontecia no passado, quando os miúdos da terra entravam nas instalações militares e pregavam grandes sustos aos sentinelas.
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